quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Biografia: “BALAI DE GATO ” – na Feira de Maracás

Balai de Gato era nossa alegria. As histórias dele eram contadas nos bares da cidade. Contavam que, (Jorge falou que ele era mascate, lembram-se?), foi convidado por Djalma Queiroz pra vender sandálias havaianas na feira de Maracás, num destes sábados do passado. Djalma, grande comerciante, ainda é, em Maracás, vendia na loja, mas nos sábados, mandava também produtos para a feira livre.
Pois bem. Entregou uma caixa cheiinha de sandálias pra Balai vender:
- O preço de cada par é vinte - disse o bom Djalma.
- Deixa comigo - Balai saiu, empurrando o carrinho de mão.
Cerca de uma hora depois, chegou Balai anunciando:
- Seu Djalma! vim buscar outra caixa, que aquela eu já vendi todinha.
Djalma muito ocupado, atendendo a freguesia na loja, não vez perguntas e autorizou mais uma caixa de cem sandálias para Balai vender. E lá foi Balai pra feira com outra caixa. Vendeu e voltou. Cinco vezes. O estoque de um mês inteiro vendido em apenas um sábado.
Acerto de contas:
- Pronto Balai, aqui tá a conta – falou Djalma - 500 vezes 20 cruzeiros igual a dez mil cruzeiros. Você tem 10% de comissão, que são mil cruzeiros. Me dê lá nove mil cruzeiros!
- Pera aí Seu Djalma – retrucou Balai – não é bem assim. Comecei vendendo a 20. Gritava feito um doido: “Havaiana a vinte!”, “Havaiana a vinte!”. Ninguém nem se interessava!
- Aí eu resolvi rebaixar – continuou falando Balai – “Havaiana a quinze!”, “Havaiana a quinze!”. Ainda teve uns dois que chegaram, olharam e saíram sem comprar.
- Pensei então comigo: ‘tenho que rebaixar mais um pouco’ – continuou – e soltei o gogó: “Havaiana a dez!”, “Havaiana a dez!”.
- Então Seu Djalma, aí o povo chegou! – prosseguiu – Veio gente de toda parte - “um pro sinhô, um pra sinhora”. Só parava prá vim aqui pegar outra caixa – seguia relatando.
- Então, 500 vezes 10, igual a cinco mil cruzeiros. Menos 10 por cento meus: quinhentos cruzeiros. Menos duzentos e cinquenta cruzeiros pro ajudante que eu contratei pra mim ajudar, restam quatro mil e duzentos e cinquenta pro sinhô. E no próximo sábado tô aqui de novo! – concluiu e saiu.
Grande Otelo. Balai de Gato se parecia com ele, segundo Jorge de Doutor. Eu concordo. Não apenas aparência física. Sem saber, Balai era um grande humorista, como Grande Otelo.

Um comentário:

Antonio Carlos disse...

Acabei de conhecer o blog, após uma recomendação de Orlando. Achei muito interessante e vou visitá-lo sempre que puder. As estórias de Balai de Gato são imperdíveis.

Antonio Carlos (Lola)